de Lucy Kirkwood
direção: Rodrigo Portella
com Analu Prestes, Mário Borges e Stela Freitas
Prêmio Cesgranrio de Melhor Direção, Melhor Atriz (Analu Prestes) e Melhor Espetáculo
Prêmio Shell de Melhor Atriz (Analu Prestes)
Prêmio APTR de Melhor Direção e Melhor Atriz
O casal de físicos aposentados Dayse e Robin vive só e sem vizinhos numa casa improvisada perto da costa, numa região assolada por um acidente nuclear. Após ausência de quase quarenta anos, Rose, antiga colega de profissão, chega a essa casa com uma missão que poderá mudar para sempre a vida do casal. Para complicar as coisas, Robin teve uma relação com Rose no passado.
As crianças é uma peça sobre Reparação, a relação do ser humano com o tempo e seu inventário de perdas e ganhos.
“Eu sou maior que Luiz XIV, senhor. Maior mesmo que Deus. Porque eu escrevo “árvore” e se ergue uma floresta. Eu digo “água” e um oceano se arrebenta.” (Trecho dito por Racine na peça “Molière” de Sabina Berman)
A palavra tem o poder de evocar qualquer coisa: memórias abissais, universos inteiros, projeções de mundos ainda não existentes. Perto do cinema, o teatro é precário e limitado no campo da materialidade, mas é, infinitamente, mais potente no campo do imaginário. Quando uma personagem descreve verbalmente uma rubrica de ação, ambiente ou circunstância, ela não precisa fazer mais nada: cada espectador é convidado a usar sua imaginação e memória para viver uma experiência totalmente pessoal e singular. Isso dispensa a concretude ordinária da cena, abrindo espaço para a subjetividade: criações mais poéticas, porosas, múltiplas e ao mesmo tempo particulares.
Através da imaginação, evocamos em As Crianças uma pequena cabana a beira-mar, o mar e um terrível acidente nuclear causado por uma onda gigantesca. Evocamos três cientistas nucleares aposentados, suas vidas inteiras, delicadezas desse triângulo amoroso, a escassez depois do acidente e a poeira invisível da radiação que paira no ar. E ainda uma pequena fazenda leiteira, vacas de estimação, uma cozinha onde se passa a peça, um humilde jantar e também a agua que transborda inundando a casa. Junto a tudo isso, trazemos também à tona as terríveis e reais tragédias ambientais, o consumo desenfreado, a produção exponencial de lixo, a forma como usamos os recursos naturais e toda nossa irresponsabilidade com o clima, o planeta e as gerações futuras. O teatro ainda tem esse poder.
Rodrigo Portella (2019)
Fotos de Ricardo Brajterman e Victor Hugo Cecatto. Todos os direitos reservados.