Texto: Jô Bilac
Direção: Rodrigo Portella
Com a Cia dos atores : César Augusto, Marcelo Olinto, Susana Ribeiro, Marcelo Vale e Gustavo Gasparani.
Ator convidado: Tairone Vale
A peça se baseia na analogia entre o mundo dos insetos e a sociedade humana atual. Relações de poder, desequilíbrio e êxodo são abordados com ironia num divertido jogo de troca de identidades sociais.
A peça se chamaria INSETOS. Seria escrita por Jô Bilac, marcaria os 30 anos da Cia dos Atores e propunha partir de situações análogas entre insetos e humanos. Era só o que eu sabia ao encerrar a conversa com César Augusto pelo telefone, um papo curto em que ele me convidava para dirigir a companhia que tinha sido uma das mais fortes referências no meu processo de formação como artista de teatro. Nos primeiros encontros, eles e Jô falaram sobre idéias, interesses, referências. Falaram sobre o desejo de transitar entre o cômico e o poético, a idéia de compor um mosaico ao invés de uma unidade fabular e a necessidade de comunicação direta com o público em geral, ou seja, uma peça com alto grau de legibilidade. Esses foram os meus principais balizadores num processo de criação que começaria sem um texto, sem um índice, um roteiro ou uma escaleta, personagens ou qualquer coisa parecida. O que nós tínhamos era o universo fascinante dos insetos, um quarteto de atores munidos com um arsenal de memórias “inesgotáveis” e uma vida-real ao redor, nos surpreendendo a cada minuto com fatos, os mais extraordinários e incoerentes.
Começamos por mergulhar no mundo exótico e quase invisível dos insetos. Enquanto Jô Bilac escrevia as primeiras cenas, nós articulávamos em sala de ensaio, eu e os atores, o comportamento (individual e coletivo) dos insetos com o da espécie humana no mundo atual: nossa natureza primitiva essencial e elementar em contraponto aos nossos complexos (des) organismos sociais e suas irregulares relações de poder, possíveis apenas pelo privilégio da inteligência e pela extraordinária evolução morfológica do corpo humano.
Ao nos enviar as primeiras cenas, nos vimos diante de analogias potentes como a do casal de gafanhotos num resort de luxo imaginando transformar reservas florestais em campos de golfe; ou a barata como representação das classes mais pobres condenadas ao subterrâneo e à periferia por serem consideradas uma ameaça ao bem estar de uma elite que se considera “asséptica”. Insetos, não menos que qualquer outra obra de arte, seria capaz de abordar temas complexos e delicados uma vez que a ficção opera no discurso indireto. Através da fábula, do lúdico, é possível expor a mazela, a doença, o tabu, o horror sem explicitá-lo. Eis aí o poder da poesia. E mais: é possível dar ao discurso uma certa polifonia, perspectivas variadas, pontos de vistas e contradições; o que torna o discurso mais aberto e até mesmo possível em alguns casos.
Outra característica forte foi o aspecto performativo, implícito nos textos que Jô Bilac nos enviava. Muitos deles pareciam revelar espaços que funcionavam como esponjas capazes de sugar de nós, uma gama de referências, memórias e perspectivas pessoais da realidade. Poderíamos fazer diversas analogias a partir da mesma circunstância e escolher o que revelar e o que deixar implícito para que os espectadores pudessem também fazer suas próprias conexões. O texto parecia ser escrito como pretexto para a elaboração de uma dramaturgia da cena, dos atores, aberto para o atravessamento de outras vozes e perspectivas do mundo real. Vivemos em um tempo em que as teorias parecem não acompanhar a velocidade dos acontecimentos, os discursos envelhecem antes mesmo de serem compreendidos, o que torna arriscado tomar partido, levantar bandeira, afirmar posições, expor certezas. Um espetáculo que fala sobre o ser humano na atualidade e que pretende estar em cartaz por, no mínimo um ano, precisa estar atento ao risco das transformações e das instabilidades dos discursos assumidos para não se tornar anacrônico em pouquíssimo tempo. O que é atual em março pode não ser mais em junho, ou mais: o que é atual hoje, muito provavelmente não era ontem. Além disso, o meu olhar para a atualidade naquele início de processo era apenas uma perspectiva daquela atualidade naquele momento da minha vida. O mundo é outro na semana seguinte e meu olhar também, uma vez que se modifica com ele. Pensando assim, não só o mundo mudava como nós artistas em processo também nos transformávamos. Éramos 5 no início e em uma semana éramos 15, em um mês éramos 100. Dessa forma nos ocupamos não só em compreender ou se apropriar, mas também em invadir a voz e o discurso do autor que também parecia se modificar no caminho. Nós o devoramos e o regurgitamos no plural, na polifonia dos discursos verbais, imagéticos e sonoros que compõem a complexidade de uma peça que não tenta dar conta da atualidade (até porque isso não seria possível), mas que, ao contrário, se abre pra ela, para ser modificada por ela a cada novo fato ou acontecimento.
Rodrigo Portella
Autor - Jô Bilac
Direção - Rodrigo Portella
Elenco
Cesar Augusto
Marcelo Olinto
Marcelo Valle
Susana Ribeiro
Tairone Vale
Cenário - Beli Araújo e Cesar Augusto
Figurino - Marcelo Olinto
Iluminação - Maneco Quinderé
Direção Musical - Marcelo H.
Arranjo e preparador vocal (Money Money) - Marcelo Neves
Desenho de som – Diogo Perdigão
Preparação corporal - Andrea Jabor
Visagismo – Marcio Mello
Programação Visual - Radiográfico
Assessoria de Imprensa – Catharina Rocha e Paula Catunda
Assessor de mídias sociais - Rafael Teixeira
Fotógrafia –Eliza Mendes
Assistente de direção - João Gofman
Assistente de cenografia – Marieta Spada
Assistente de figurino – Rodrigo Reinoso
Assistente de Prep. Corporal – Rodrigo Maia
Operador de som: João Gofman
Operador de luz – Rodrigo Portella
Contrarregra: Wallace Lima
Cenotécnico de montagem – Jessé, Iuri Wander e Fábio Lima
Tingimento de tecidos Mariposa – Almir França
Arte em figurinos – Sandro Vieira
Assessora ensaios - Dalva Rocha
Coordenação Financeira - Amanda Cezarina
Produção Executiva - Bárbara Montes Claros
Direção de Produção e administração - Celso Lemos
Realização – Cia do Atores
Fotos de Ale Catan. Todos os direitos reservados.